quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Uma apresentação teatral na escola

Abaixo deixo o exemplo de uma peça apresentada na Escola Estadual Maria de Lourdes Câmara Souto, em Natal, por jovens adolescentes. O roteiro é simples e perfeitamente adaptável para crianças mais novas. O tema, a preocupação com o Meio Ambiente, também é relevante historicamente. Vivemos uma época em que urgem medidas e esforços no sentido de preservarmos o planeta. Mas foi assim desde sempre? Quando surgiu essa preocupação? Historicamente falando, nosso tempo é o de maior zelo ou o de maior descuido ambiental?


A Revolta dos recipientes

O catador, à esquerda, vai pegando latinhas e colocando num saco, rabugento.  À direita, instantes depois, surge o médico, bata branca, queixo erguido, prontuário nas mãos, lê...


Médico- Oh, esse daqui já morreu... Dengue hemorrágica! (joga o papel no chão)

O catador, que percebe o gesto do médico, tosse. O médico não o nota, tira uma máquina fotográfica do bolso, encara a paisagem...

Médico- Ah, pilhas velhas! Esqueço sempre de comprar recarregáveis. (tira as pilhas da máquina e joga-as no chão, zangado) Nunca funciona quando a gente quer.
O catador, que mais uma vez percebe o gesto do médico, tosse. Dessa vez com mais força. Mas o médico continua não o notando, e tira um lenço de papel do bolso.

Médico- Ainda por cima essa gripe! (assoa o nariz, tira um sanduíche do bolso) Ai, sanduíche mais podre! Ai, que nojo! (deixa cair o sanduíche e o lenço de papel no chão)

O catador, ainda mais furioso, tosse mais forte ainda. Nesse caso, pode aumentar o número de tossidas. A Terra que presencia toda a ação junto ao fundo da cena, vai ficando mais triste.

Catador- (colocando o saco no chão) basta! (grita) Amigos!
Nesse instante, entram todos os recipientes correndo, rodeiam o médico que parece meio assustado. Pelo contrário, no fundo da cena, a Terra se anima.
Recipientes, Catador- (andando ao redor do médico)
Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado

Nesse ponto, vez a vez, um se destaca, chega-se ao médico e grita:

Azul-
Azul é a minha cor
Até criança sabe
Papel, por favor

Vermelho-
Vermelho, seu Horácio,
E não finja que não sabe
Eu sou o lugar do plástico

Amarelo-
Pra mim, por favor, metal
Vestido de amarelo
Levo desleixo a mal

Verde-
Eu sou a cor do vidro
Esse verde bem bonito
Não quero ficar bravo contigo

Marrom-
Marrom, sinhô doutor,
Lixo orgânico, você sabe,
O sanduíche, por favor

Roxo-
E eu sou o mais perigoso
O demônio radioativo
A minha cor é o roxo

Branco-
E eu o lixo hospitalar
Germes, vírus, bactérias
Vou te infectar

Preto-
Eu sou o parente negro
Responsável pela madeira
Cuidado com esse enredo

Cinza-
Sou, doutor, o pior de todos
Cinza, lixo contaminado,
Maltratado morre todo o povo

(todos, menos o médico)-
Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado


Nesse momento, o médico foge correndo. Os recipientes saem instantes depois. Em cena fica apenas o Catador, que continua sua tarefa, e a Terra girando feliz.

Cena II

À esquerda, o catador recolhe os detritos, a Terra ao centro, feliz, na direita, um corpo, o médico deitado sobre o chão. Quando o Catador o vê, corre até ele. Verifica o pulso.

Catador- Morto!

Nesse instante, entram os recipientes, cercam-no, e um a um repetem:

- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
Entra a agricultora.

Agricultora- Leptospirose! Leptospirose!

Outros- Leptospirose?!

Agricultora- Leptospirose.
Agrupam-se todos na frente.

Todos-
Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado
Estamos fartos! Estamos fartos!




Postagem de Ricardo Barbosa (ricardoalex_78@hotmail.com)
                                                                                                              Dramaturgia de Ricardo Barbosa

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